Condenado a viver num tribunal
02/12/2009
    Duas décadas de constantes processos judiciais pouco efeito têm exercido na opinião pública italiana, mas, depois dos escândalos sexuais, novas alegações de ligações à máfia siciliana não podiam vir numa pior altura.    A equipa de defesa de Marcello Dell Utri, senador italiano condenado a 9 anos de prisão em 2004 por alegadas ligações à máfia, declarou em tribunal que Silvio Berlusconi, Primeiro-Ministro italiano, não poderia estar presente na primeira audiência do recurso de DellUtri, em 4 de Dezembro, porque estaria a inaugurar uma nova auto-estrada.
   "Inicia-se assim mais um capítulo do show Berlusconi, a cortar uma fita em alcatrão", escreveu Mario di Giacomo no diário La Republica que na semana passada iniciou nova batalha de palavras com o líder italiano depois de publicar alegadas ligações entre o "império dos média" de Berlusconi e a máfia.
  Segundo o jornal "20% da Mediaset", empresa de Berlusconi, está sob controlo de organizações criminosas. A acusação foi prontamente negada pelo próprio Berlusconi, que afirmou que as acusações "não têm qualquer fundamento".
   "Eles acusam-me de ter feito coisas que nunca me passaria pela cabeça fazer. Se houve um governo que fez mais que todos os outros na luta contra a máfia foi o meu", disse o Primeiro-Ministro num comício na Sardenha.
   "Ele tem uma forma estranha de combater a máfia, convida-os a sua casa e distribui-os no Parlamento", rematou Antonio Di Pietro, famoso magistrado anti-máfia.
   As acusações do jornal italiano foram ainda mais longe, insinuando que Berlusconi será uma figura central na reabertura das investigações aos ataques bombistas de 1993, durante a curta guerra entre o estado italiano e a Cosa Nostra. Os advogados do Primeiro-Ministro já declararam que brevemente processarão o jornal por difamação.

   As denúncias de ligações entre o Chefe de Estado italiano e o crime organizado não são um fenómeno novo. Desde os anos 70, altura em que foi tornada pública a relação entre Berlusconi e Vittorio Mangano, mafioso notório e ex-empregado na quinta do dirigente político, que as acusações se sucedem.
   Entre muitas outras, antigos criminosos afirmam que as figuras míticas de Salvatore Riina e Stefano Bontade foram essenciais na subida ao poder de Berlusconi, apoiando financeiramente a construção da sua fortuna.

   Berlusconi, que nos últimos 15 anos já foi a tribunal responder a acusações de suborno, corrupção, fuga aos impostos, lavagem de dinheiro, associação criminosa e tráfico de droga, nunca chegou a cumprir qualquer pena. Na maioria dos casos ou foi ilibado ou o processo prescreveu segundo o "estatuto de limitaes da justia", ironicamente desenhado por ele próprio durante o seu segundo mandato.
   Apenas em duas ocasiões a sentença foi parcialmente desfavorável a Berlusconi. Primeiro, foi condenado em 1990 por falso testemunho durante o controverso processo da Propaganda Due, grupo maçonico envolvido nos assassinatos do jornalista Mino Pecorelli e do banqueiro Roberto Calvi. Em 1992 foi prenunciado culpado de fuga aos impostos. Em ambas as ocasiões foi amnistiado.
  "Eu detenho o recorde universal do maior número de julgamentos em toda a história da Humanidade, e também entre outras criaturas de outros planetas", disse Berlusconi durante a cimeira do G8, no Japão em 2008.
  O  processo que se inicia agora no tribunal de Turim tem, no entanto, características diferentes e, tendo em conta o momento em que chega, pode ser bem mais prejudicial ao líder político.
   Na leitura da primeira sentença, em 2004, DellUtri, co-fundador do já extinto partido Forza Itlia, foi descrito como "elo de ligaçãoo entre Berlusconi e a máfia", confirmando assim o que até então não passava de especulações. Estranho foi também o silêncio de Berlusconi depois de conhecida a sentença. Ao contrário do que era habitual, não proferiu qualquer comentário.

   Testemunha chave neste processo é Gaspare Spatuzza, conhecido mafioso que garante ter provas esclarecedoras que ligam Berlusconi não só à Cosa Nostra de Palermo mas também a um ataque bombista em Florença durante as chamadas Guerras Mafiosas dos anos 90.
   Igualmente preocupante foi a condenação do advogado britânico David Mills, na altura casado com a Ministra da Cultura inglesa, Tessa Jowell, por ter recebido 400 000 libras em troca de se abster de incriminar a Mediaset noutro processo de tráfico de influências, caso que abalou as relações entre o governo italiano e o de Tony Blair.

   Com a uma imagem pública bastante debilitada pelos recentes escândalos sexuais, vai ser difícil para Berlusconi evitar que todo este frenesim não acabe por ter consequências políticas para o seu governo.



  UM CASO ESPECIAL
02/12/2009
 Em 8 anos de participação em operações militares no Afeganistão os holandeses mudaram radicalmente de opinião.
  Logo depois do 11 de Setembro a Holanda foi um dos primeiros estados ocidentais a demonstrar-se disponível a aliarem-se aos norte-americanos no médio oriente.
   Muito desse apoio avassalador era fruto de uma condição muito particular e que agora é frequentemente escrutinada por intelectuais e cidadãos comuns.
   Coube às tropas holandeses a ingrata tarefa de assistir ao massacre de Srebenica em Julho de 1995, na Bósnia. Na altura, sob missão da ONU, os militares holandeses viram-se incapacitados de reagir e impedir a morte de cerca 8.000 muçulmanos pelas tropas de Ratko Mládic. O evento gerou uma onda de indignação dentro da sociedade holandesa a quem lhes foi garantido, pelo próprio governo, que nunca mais as suas tropas seriam colocadas em tal posição.
   Quando chegou a altura de partir para o Afeganistão os holandeses viram uma oportunidade única para se redimirem, apoiando inequivocamente as suas tropas na nova missão, desta feita sob coordenação da Nato.

    Vinte e uma baixas depois num conflito que pouco favoravelmente se desenvolveu em 8 anos as opiniões não podiam ser mais diferentes.
    Igualmente particular é a situação das tropas propriamente ditas.
    O exército holandês goza de um luxo pouco habitual em instituições militares. Todos os elementos das forças armadas são sindicalizados desde 1989, permitindo-lhes desenvolver plataformas de expressão de descontentamento.
    No caso das operações no Afeganistão as duas maiores organizações sindicais têm-se frequentemente oposto à permanência no território.
    Wim Van Den Burg, líder da AFMP, a mais antiga e poderosa das plataformas sindicais militares disse recentemente à BBC, “Um militar é um cidadão com uniforme que vive com as mesmas preocupações em relação à presença holandesa no Afeganistão...Estamos no território à 4 anos sem que se note diferenças. Por isso somos a favor da retirada. Penso que a voz do militar é de enorme importância”.
    A ACOM, outra das grandes organizações laborais que defende os direitos dos militares também apoia a retirada, mesmo que de uma forma mais subtil, ao abrir espaço a outras alternativas. “A missão no Afeganistão é hoje um fardo muito pesado para as nossas tropas. Mas se sairmos agora, sem que tropas de outro país nos substituam, custa-me dizer aos familiares dos soldados que morreram que o seu sacrifício foi em vão”, disse Jan Kleain, porta-voz do grupo.

    O apoio ao fim da participação e de tal forma poderoso que o parlamento não hesitou em votar contra um possível novo acordo que prolongasse a estadia das tropas, tal como acontecerá em 2008, altura em que o governo holandês se viu obrigado a ceder e a manter a posição por falta de substitutos.
    Embora o governo de Jan Peter Balkenende ainda não tenha promulgado o voto dificilmente poderá opor-se.
    Sendo assim o prazo limite da presença dos holandeses no Afeganistão, cerca de 2160 efectivos, termina em Setembro de 2010.

Extrema-direita Francesa Perto de Vitória Historica

30/06/09

 
A dinastia Le Pen parece estar assegurada. Com Jean-Marie Le Pen prestes a deixar a cena política, a mais nova das suas 3 filhas mostra-se preparada para tomar conta do partido e vencer a primeira municipalidade no norte do país.

  Jean-Marie Le Pen é já uma figura mítica na cena política francesa. Em 2002 surpreendeu o mundo ao conquistar 16.9% dos votos nas presidências, deixando a França sem outra alternativa se não devolver as rédeas do poder a Jacques Chirac.  
   Com a iminente saída do octogenário, que declarou abandonar o mundo da política nos próximos 3 anos, o debate sobre a sucessão na liderança do partido tem sido acesso. 
   Mas todas as dúvidas serão esclarecidas no próximo domingo, quando os 26 mil cidadãos da pequena e empobrecida localidade de Hénin-Beaumont se deslocarem às urnas para a segunda volta das autárquicas antecipadas.
   Marine Le Pen, a filha mais nova do velho líder, está longe de ser uma figura consensual, embora disponha do apoio incondicional do pai. Para a ala mais radical do partido é vista como um elemento demasiado liberal. Os recentes comentários, proferidos durante a campanha para as europeias, demonstraram uma vontade de modernizar o partido apoiando a causa pro-aborto e criticando a linha racial que tem vindo a definir o partido desde os anos 70. 
  Trunfos não faltam a Marine. 
  Primeiro, os últimos resultados eleitorais da Frente Nacional têm enfraquecido a esfera de influência da extrema-direita francesa. As 4 câmaras que venceram no Sul e no Vale do Reno, entre 1996 e 1997, voltaram a ser dominadas pelos socialistas e o centro-direita de Sarkozy. O próprio Le Pen não foi além dos 10% nas presidenciais de 2007 e nas últimas europeias apenas alcançou uns modesto 6.3%, levantando serias questões sobre a incapacidade da linha partidária conquistar novos votos. 
  Segundo, Marine mostrou grande astúcia política ao dispensar todos os esforços na campanha para as autárquicas antecipadas em Hénin-Beamount, conquistando 40% dos votos no domingo passado, assumindo-se assim como a grande favorita para a conquista da região.  
  Por mais estranho que pareça, a oportunidade foi cortesia do Partido Socialista, que governa a região à mais de 70 anos. Hénin-Beaumont, perto de Lille, sempre fora um bastião da esquerda. Mas em Abril passado a pacata região foi abalada por um escândalo político sem precedentes.  
  Gérard Dalongeville, antigo Presidente da Câmara, foi preso por alegado favoritismo na atribuição de contratos e viu-se envolvido numa complexa teia de corrupção, obrigando o governo francês a convocar novas eleições.  
   A taxa de 20% de desemprego e a contínua falta de investimento na região tornaram-na numa das mais empobrecidas localidades francesas. Com o PS como único alvo do descontentamento, a população parece determinada em promover uma radical mudança na liderança da municipalidade. 
   No entanto, a vitória da Frente Nacional não está assegurada. No total, a esquerda conquistou 55% dos votos, e desde que a ameaça de uma conquista por parte de Marine Le Pen preencheu as primeiras páginas dos jornais, um coro de vozes levantou-se em oposição. 
   Da extrema-esquerda a Sarkozy ouviram-se apelos à formação de um bloco republicano com um único objectivo, o de impedir Marine de ganhar as eleições no próximo Domingo, através do voto no candidato independente, Daniel Duquenne, que ficou em segundo lugar com 20% dos votos. 
   Se a criação dessa aliança é suficiente é difícil de prever.  
   Seja como for, a vitória na primeira volta não deixa de ser um marco histórico, já que a Frente Nacional foi sempre incapaz de cativar votos no norte da França.  
   O alerta já foi declarado. Depois das estrondosas vitórias nas europeias no Reino Unido, Áustria, Bulgária, Dinamarca, Roménia e Eslováquia, a extrema-direita europeia declara-se como a principal oposição política em grande parte do continente.

Eleições europeias
30/05/2009

  Entre 4 e 7 de Junho a Europa vai a votos. 736 lugares estão em disputa para representar 500 milhões de europeus. São as maiores eleições na história do velho continente. O que é que está verdadeiramente em disputa em cada país?

Alemanha
Lugares: 99, é a maior representação no parlamento. Não perdeu qualquer lugar.
Ambiente politico: Em Setembro há eleições presidenciais. A coligação entre o SPD de Frank Steinmeir e a CDU de Ângela Merkel está em dificuldades com o aprofundar da crise económica e a taxa de desemprego nos 8.6%.
Campanha: O poderoso partido ecologista alemão fez do ambiente um dos temas mais debatidos desta campanha, mas as disputas entre Merkel e Steinmeir têm dominado as discussões.
Assuntos chave: Desemprego –A crise no sector automóvel é particularmente preocupante. A recente tentativa de compra da Opel, um dos maiores empregadores no país, por parte da Fiat e um consórcio Canadiano convenceram a população da necessidade de uma influência consistente em Bruxelas.


Áustria
Lugares: 17, perdeu 1.
Ambiente politico: O governo de coligação de centro-esquerda e conservadores, liderado pelo PM Werner Faymanm, tem estabilizado a situação financeira do país, mantendo a taxa de desemprego no 4.5%. Nas últimas legislativas a extrema-direita ganhou 29% dos votos. Desfruta agora de uma enorme influência politica.
Campanha: A campanha foi manchada por recentes declarações do Cardeal Chistroph Schoenborn, que criticou Heinz-christian Strache, líder do maior partido de extrema-direita, por usar símbolos cristãos na campanha.
Sondagens apontam para vitória confortável da coligação entre o Partidos Social Democrata e o Partido Popular.
Assuntos chave: Expansão – Em diversas ocasiões Faymanm opôs-se à adesão da Turquia, exprimindo a esmagadora opinião dos austríacos.

Bélgica
Lugares: 22, perdeu 2.
Ambiente Politico: A Bélgica atravessa tempos difíceis. Depois de 9 meses sem governo graças a velhas divergências entre as comunidades flamengas e francófonas, a continuidade da nação continua em discussão. O frágil governo de Yves Leterme caiu recentemente quando o governo tentou bloquear uma decisão do tribunal que impedia a venda do banco Fortis ao BNP Paribas francês.
Campanha: Manchada por novo escândalo de corrupção na Valónia francófona. Por ser a sede da União os belgas são talvez dos povos mais pró-Europa.
Assuntos Chave: Desemprego – Com uma taxa de desemprego de 7.3% o tema é relevante, mas facilmente ignorado tendo em conta a instabilidade politica.


Bulgária
Lugares: 17, perdeu 1.
Ambiente politico: Dia 5 de Julho há eleições legislativas na Bulgária. O partido do primeiro-ministro socialista, Sergei Stanishev, está lado a lado nas sondagens com o centro-direita. Com o desemprego estabilizado nos 5.9%, o país tem-se aguentado com a crise financeira.
Campanha: A relação entre búlgaros e a Europa é frágil. Muitos búlgaros estão descontentes com o punho firme europeu em relação a temas como o crime organizado e a corrupção. No ano passado a UE retirou metade das verbas prometidas por considerar que não foram feitos os esforços necessários para combater a corrupção no país. O tema domina o debate em Sofia.
Assuntos Chave: Energia – A Bulgária foi dos que mais sofreu com o bloqueio de gás natural russo. Vê em Bruxelas uma forma de garantir que tal não volte a acontecer, principalmente depois de ter sido obrigada a fechar 6 reactores na central nuclear de Kozloduy, de forma a poder entrar na união.

Chipre
Lugares: Mantém 6.
Ambiente politico: O Chipre é o único território europeu dividido literalmente por uma vedação, que separa as comunidades gregas das turcas. A reunificação da ilha continua a dominar a agenda politica.
Campanha: Eleições ocorrem apenas na parte Grega, mas a campanha tem sido marcada pelas negociações do presidente comunista Demetris Christofias com o líder da metade turca.
Assuntos chaves: Expansão: Para Christofias e a maioria dos cipriotas a adesão da Turquia é vital para a solução do problema interno.

Dinamarca
Lugares: 13, perdeu 1.
Ambiente Politico: Com um dos mais altos níveis de vida, a missão do governo de Lars Lokke Rãs Mussen não é difícil. Mas pela primeira vez na história recente do país o desemprego tem subido a um passo preocupante, atingindo já os 5.7%.
Campanha: Copenhaga tem sido palco de algumas das mais controversas decisões populares. O tratado de Masstricht só passou à segunda e em 2000 recusaram a entrada no Euro. Campanha dominada por tentativas de voltar a realizar referendo sobre o euro.
Assuntos chave: Emprego – O sistema de flexibilidade de emprego dinamarquês está a ser posto à prova. Poucos estão dispostos a prescindir do modelo social que notabilizou o país.


Estónia
Lugares: Mantêm 6.
Ambiente politico: O boom financeiro da primeira metade da década já faz parte do passado e o governo de Andrus Ansip está sobre enorme pressão para conseguir manter a estabilidade necessária para entrar na zona euro em 2011.
Campanha: Uma inflação descontrolada em 2007 impediu a Estónia de aderir ao euro. O tema continua a ser central em toda a discussão politica.
Assuntos Chave: Desemprego – Com uma taxa de desemprego de 11% o tema torna-se inevitável.


Eslováquia
Lugares: 13, perde 1.
Ambiente politico: Esquerdistas do partido Smer, liderados por Robert Fico, têm-se aguentado no poder. Mas a crise financeira ameaça essa supremacia.
Campanha: Indústria automóvel bastante debatida em Bratislava. O país é um dos maiores exportadores mundiais. Nas europeias de 2004 tiveram a pior afluência às urnas com um magro 17%.
Assunto Chave: Desemprego - 10.5% de desempregados obrigam a atenções redobradas.

Eslovénia
Lugares: Mantêm 7.
Ambiente politico: Governo do social-democrata Borut Pahor tem feito um bom trabalho para minimizar efeito da crise.
Campanha: Conflito com a Croácia e a economia foram os temas mais debatidos.
Assunto Chave: Expansão – Estão em disputa, com a Croácia, os territórios da estância turística de Istia e a Baia de Piran. Os direitos de propriedade da central nuclear de Krsko são também fonte de discórdia. Por isso têm bloqueado as negociações europeias com a Croácia.

Espanha
Lugares: 50, perde 4.
Ambiente Politico: A maior contracção económica dos últimos 50 anos e o colapso do mercado imobiliário deixaram Zapatero em maus lençóis. A oposição de Mariano Rajoy, do PP, tem tido dificuldade em tirar dividendos da situação.
Campanha: As sondagens são inconclusivas. A vitória à tangente do PSOE em 2004 poderá voltar a acontecer.
Assunto Chave: Desemprego – Em nenhuma outra parte da Europa o desemprego atingiu os 17.4%. Tudo o resto é secundário.

Finlândia
Lugares: 13, perdeu 1.
Ambiente Politico: A coligação entre centro direita e esquerda, liderada por Matti Vanhanem, tem-se aguentado com o apoio da presidente Tarja Halonem. No entanto, a estabilidade do país começa a ser comprometida com a subida do desemprego que em Maio chegou aos 7.8%.
Campanha: Tal como na Irlanda e Dinamarca, os finlandeses não votam em partidos, mas sim em candidatos, tornando a campanha mais concreta e pessoal. O tema da segurança, depois de uma série de “massacres” em escolas, tem sido amplamente discutido.
Assuntos Chave: Europa social – Habituados a um grande apoio do estado, os finlandeses estão preocupados com o que se passa em Bruxelas. A manutenção da velha Europa social é vital para a população.

França
Lugares: 72, perdeu 6.
Ambiente politico: As fortes criticas às instituições bancárias e a crescente intervenção de Sarkozy na cena internacional têm consolidado o apoio ao presidente. Sarkozy está em alta e nem com o desemprego em 8.8% essa condição parece estar ameaçada.
Campanha: Os socialistas costumam sair vitoriosos, e a nova líder, Martine Aubry, está confiante. Mas o UMP de Sarkozy pode vir a fazer história.
Le Pen, o mais velho eurodeputado, volta a jogar um papel relevante nas eleições. A sua filha, Marine Le Pen, também eurodeputada, causou divergências entre os ultra-nacionalistas por declarar-se tolerante em questões como o aborto e a homossexualidade e por acreditar que na França moderna não há lugar para o anti-semitismo.
Assuntos chave: Agricultura – A França é de longe o país que mais fundos recebe da Politica Agrícola Comum, e defende essa posição com unhas e dentes.


Grécia
Lugares: 22, perdeu 2.
Ambiente politico – Os motins do natal passado ainda estão na memória de todos os gregos. O apoio ao primeiro-ministro Karolos Karamanlis nunca foi tão fraco.
Campanha: Todas as sondagens apontam para uma vitória dos socialistas. 
Assuntos chave: Expansão – Apoiam a integração da Turquia de forma a estabilizar a região e resolver conflito no Chipre. Mas continuam a opor-se a negociações com a Macedónia. Em Atenas, o nome do país vizinho é visto como uma tentativa de reclamar território grego.

Holanda
Lugares: 25, perde 2.
Ambiente Politico: PM Jan Peter Balkenende lidera coligação entre democratas cristãos e socialistas. Holanda é excepção à crise com apenas 2.9% de desemprego.
Campanha: A extrema-direita de Geert wilders ganhou terreno e pode surpreender nos resultados.
Assunto chave: Imigração – Aquela que outrora era a mais tolerante das nações europeias tem assistido a um avolumar de tensões raciais, resultado das mortes do líder fascista Pim Fortuyn e do cineasta Theo Van Gogh. Amesterdão tem também sido palco de movimentações de radicais islâmicos.


Hungria
Lugares: 22, perde 2.

Ambiente politico: Estado lastimável da economia fez cair governo de Ferenc Gyurcsany em Março passado.
Campanha: Muito se tem discutido como melhor usar os 25.1 biliões de dólares disponibilizados pelo FMI para combater a crise
Assuntos Chave: Desemprego -  9.2% da população desempregada fazem do tema a maior preocupação dos húngaros.

Irlanda
Lugares: 12, perde 1.
Ambiente Politico: O Fianna Fail de Brian Cowen está na corda bamba. A economia, que há um ano atrás era das mais fortes da zona euro está agora de rastos. Em menos de um ano o desemprego subiu de 5.5% para 10.6%
Campanha: O Fine Gael de Enda Kenny lidera nas sondagens.
Assunto Chave – Tratado de Lisboa – Em Junho passado votaram no “NO” bloqueando toda a união. Agora com a crise, os Irlandeses contemplam voltar a sorrir para Bruxelas e votar “Yes” no referendo em Outubro.

Itália
Lugares: 72, perde 6.
Ambiente politico: A Itália é excepção à crise. O desemprego está estável nos 6.9%, e Berlusconi vive os melhores dias do seu terceiro mandato.
Campanha: O maior partido da oposição foi formado em 2007 e faltam-lhe bases para competir com o Partido da Liberdade de Berlusconi. Controvérsia sobre lei que obriga a identificação de ciganos romenos animou a campanha.
Assuntos chave: Imigração – Itália tem as portas bem fechadas e quer ver ainda mais restrições.  

Letónia
Lugares: 8, perdeu 1.
Ambiente politico: Estado da economia levou o governo de Ivars Godmanis a demitir-se. A nova coligação de 6 partidos, liderada por Valdis Dombrovskis iniciou programa histórico de redução de gastos orçamentais.
Campanha: Tal como na Hungria, em Riga discute-se como gastar os 7.5 biliões entregues pelo FMI
Assuntos Chave: Desemprego – 16.1% de taxa de desemprego deixa pouca margem a qualquer outro assunto.

Lituânia
Lugares: 12, perde 1.
Ambiente Politico: Depois dos motins de Janeiro em Vílnius a eleições presidenciais deram uma vitória estonteante a Dália Grybauskaite, a primeira mulher no poder, que assume o cargo em Julho. Muito se espera desta nova liderança.
Campanha: A nova era politica manipula todo o debate.
Assunto Chave: Emprego – Lituânia não é excepção na Europa de Leste. Os 15.5% de desempregados são a prioridade.

Luxemburgo
Lugares: Mantêm 6.
Ambiente politico: Desde 1995 que Jean-Claude Junker lidera o governo.
Campanha: No mesmo dia das europeias há eleições legislativas que, obviamente, dominaram a campanha.
Assunto Chave: Tratado de Lisboa – Mais de 40% da população vem de outros países da comunidade o que faz do Luxemburgo o mais europeu de toda a UE. Como tal, o tratado de Lisboa e a reforma em Bruxelas são centrais.

Malta
Lugares: Mantêm 5 e continua a ser a mais pequena representação.
Ambiente Politico: País dividido entre apoiantes do PM de centro-direita, Lawrence gonzi e o socialista Joseph Muscat.
Campanha: Pouco se têm debatido estas eleições. Espera-se pouca afluência às urnas.
Assunto chave: imigração – Cada vez mais barcos vindos do norte de Africa acabam nas costas da ilha de Malta, cuja economia não encontra forma de absorver o fluxo migratório.

Polónia
Lugares: 50, perde 4.
Ambiente politico: Donald Tusk lidera plataforma cívica desde 2007. Desemprego atingiu este ano os 7.7%.
Campanha: Dominada por duas figuras. Primeiro, Lech Walesa juntou-se ao congresso do LIBERTAS, grupo europeu contra o tratado de Lisboa. Segundo, o influente arcebispo Jozef Zycinski apelou ao voto na direita conservadora.
Assunto chave: Desemprego – A entrada na união gerou um enorme êxodo de polacos por toda a Europa. À medida que o desemprego se alastra pelo continente as oportunidades diminuem.


Suécia
Lugares: 18, perde 1.
Ambiente politico: Coligação de centro-direita, liderada por Fredrik Reinfeldt, é estavle e pondera novo referendo sobre o Euro.
Campanha: A imprensa sueca não encontra argumentos para explicar o avassalador apoio dos jovens suecos ao novo Partido Pirata, criado durante o processo legal do website Pirate Bay, por causa de violação de direitos de autor. Todas as sondagens apontam para uma grande surpresa nos resultados.
Assunto chave: Euro – Depois de recusado em 2000 os suecos parecem estar mais convencidos a juntarem-se à zona euro.

Reino unido
Lugares: 72, perde 6.
Ambiente politico: governo trabalhista de Gordon Brown desgastado pelo escândalo de extravagâncias orçamentais de alguns deputados. David Cameron, líder conservador, sobe nas sondagens.
Campanha: Historicamente eurocépticos, não se espera grande participação dos britânicos. Excepções serão os apoiantes dos partidos de extrema-direita, UKIP e Partido Nacional Britânico, que segundo as sondagens vão ampliar presença em Estrasburgo.
Assunto chave: Tratado de Lisboa – É impensável, para os britânicos, que não haja referendo sobre o tratado, embora os governos de Blair e Brown o tenham sempre evitado.


Republica Checa
Lugares: 22, perdeu 2.
Ambiente Politico: Em plena presidência europeia o governo de Mirek Topolanek caiu, depois de ter perdido um voto de confiança no parlamento. Eleições antecipadas foram convocadas para Outubro.
Campanha: Marcada pela controversa campanha anti-ciganos do Partido Nacionalista. O presidente Vaclav Klaus é um dos maiores opositores ao Tratado de Lisboa.
Assuntos chave: Rússia – A relação com a vizinha Rússia é conturbada e os checos olham para a Europa como um seguro de vida. Sofreram com o bloqueio do Gás e são alvo de constantes ameaças vindas de Moscovo por terem apoiado o plano de defesa antimíssil de Bush. Com a chegada de Obama as relações com Washington tem arrefecido e Praga arrisca-se a ficar isolada.


Roménia
Lugares: 33, perde 2.
Ambiente Politico: Emil Bloc lidera governo de democratas liberais.
Campanha: A modelo Elena Basescu, candidata independente, tem animado a campanha. Mas a crise e
conómica e a corrupção dominam o debate.
Assunto Chave: Desemprego – Desemprego já vai em quase 6% e promete continuar a aumentar.


União europeia endurece discurso sobre novo acordo ambiental
03/04/09

A guerra de palavras que antecede a cimeira de Copenhaga já começou. A UE disparou em todas as direções mas até agora só se feriu a si mesma.

  O líder europeu das negociações do futuro acordo ambiental, Jos Debelke, disse recentemente, “A ação (de países em vias de desenvolvimento) deve ser significativa”, de outra forma será impossível justificar a distribuição de fundos para desenvolvimento de projetos com o objetivo de reduzir a emissão de gases provocadores do efeito de estufa.
  O comentário marca uma mudança radical na estratégia europeia em relação às negociações do substituto do protocolo de
Kyoto, que terão lugar em Copenhaga, a Dezembro deste ano.
  Se na “maratona” de Bali a União demarcou-se como o líder sensato, agora recua, expondo algumas das contradições do seu plano de ação ambiental.
  Yvo de Bóer, secretário do programa climático da ONU (UNFCCC) disse, “Francamente a linguagem dos ministros (da UE) rescreve alguns dos acordos fundamentais que conseguimos em Bali. Não me parece que seja construtivo entrar numa negociação tentando modificar os princípios fundamentais, recentemente atingidos e nos quais se baseiam as negociações”.
Debelke respondeu dizendo, “Estamos a iniciar negociações, por isso parece-me justo e o momento ideal para que todos delineiem o que realmente querem”.
  Seja qual for a perspetiva, este está longe de ser o cenário ideal para o acordo que se deseja o mais abrangente possível, respondendo às deficiências do protocolo de Kyoto, que expira já em 2012.
  Na raiz do problema está a falta de intervenção concreta de Obama em relação ao assunto e a decorrente crise financeira. À saída do último concelho de ministros do ambiente europeus Durão Barroso disse, “É importante que os Estados Unidos, o Japão e outros grandes contribuidores definam publicamente a sua posição”. Até que tal aconteça, a União europeia não se compromete a definir uma posição clara.
  No final do ano passado foi aprovado o novo pacote ambiental europeu, o chamado plano 20/20/20, que consiste na redução de emissões de gases em 20% até ao ano de 2020. Na altura Barroso disse que o plano era “A mais ambiciosa proposta no mundo inteiro”.
  Uma das mais significantes alterações no novo pacote está no novo regime do Esquema de Troca de Emissões (
ETE), o mecanismo pelo qual as indústrias poluidoras, industria pesada e centrais energéticas, podem comprar créditos das indústrias que menos poluíam, como alternativa a reduzirem emissões de CO2.
 Respondendo aos apelos de líderes industriais, que temiam uma perda de competitividade com restrições severas nas emissões de gases, a União definiu uma série exceções O regime antigo obrigava os poluidores a integrarem-se no sistema até 2013. Agora, entre outras exceções, foram excluídas, até 2020, as companhias que não faziam parte da rede elétrica europeia antes de 2007, tal como muitos estados da Europa de Leste, que estão dependentes de energia gerada por combustíveis fosseis.
  Significativo é também a exclusão daqueles setores sob o risco da chamada “fuga de carbono”, companhias que a UE acredita que optarão pela recolocação de empregos e infraestruturas fora da União como forma a evitar redução de emissões.
  Avril Doyle, negociadora do ETE disse na altura, “É um resultado equilibrado entre a preservação da integridade ambiental e a manutenção de um terreno justo para a indústria”.
  As críticas ao novo pacote emergiram de imediato.
  O euro deputado Claude
Turmes disse, “Precisamos de acabar com o lobby dos grandes poluidores que dominam a política europeia. Este negocio recompensa em demasia os grandes poluidores”.
Elise Forda, da Oxfam, disse, “...oferecer permissões às indústrias não só os desculpabiliza para continuarem as emissões mas também retira diretamente dinheiro das mãos dos mais pobres, que são os que menos provocaram o problema.”
  Pior ainda, o
ETE não cobre cerca de 60% das emissões de gases na Europa, provocadas por setores como o transporte, construção e agricultura. Como alternativa, o pacote obriga os estados membros a uma redução de emissões de 10% nestes setores entre 2013 e 2020.
  Seja como for, a união já admitiu que todo este esquema resulta em que um terço da redução de 20% será feito através de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (
MDL), esquema idêntico ao ETE mas a nível global, definido em Kyoto. Isto é, 1 terço da redução de emissões de gases nocivos que a União europeia pretende fazer até 2020 terá lugar fora da Europa, sem que a indústria europeia tenha que comprometer a competitividade dos seus negócios.
  Em Bali emergiu a ideia que os líderes dos países subdesenvolvidos acreditavam que o problema do aquecimento do planeta fora causado pelo ocidente, e como tal, competia ao ocidente conduzir os esforços necessários para que todo o planeta pudesse corresponder ao desafio.
  Yvo de Bóer acredita que essa ajuda financeira tenha que chegar aos 220 biliões de euros anuais, até 2020.
  O endurecer do discurso europeu e o apontar o dedo aos países subdesenvolvidos, nesta conjuntura, é contraditório e em nada ajuda à inclusão dos Estados Unidos e China no processo.
   Stephen singer, do programa energético da WWF, disse, “Nós percebemos que em tempo de crise financeira é difícil ser generoso e distribuir recursos a outras partes do mundo. Mas a desresponsabilização e a exigência de que os países em vias de desenvolvimento avancem com propostas para reduzirem as suas emissões é uma receita para uma derrota em Copenhaga.”



Cai neve em Davos, faz sol em Belém
02/03/09

A crise económica obviamente dominou as agendas do fórum económico mundial e do fórum social mundial. No entanto, como era de esperar, dos dois encontros emergiram diferentes perspetivas e soluções.

Desde 2001 que o ano começa com duas conferências fundamentalmente opostas. Enquanto uns choravam por champanhe derramado, outros cantavam a derrota do neoliberalismo Com tanta conversa, lágrimas e coros é difícil interpretar o que de concreto saiu dos dois encontros.


Fórum Económico Mundial
 O tema da edição de 2009, “Redesenhando o mundo pós crise” levantava de imediato uma simples pergunta. Quem sabe quando vai acabar esta crise?
Gordon Brown, Primeiro-Ministro britânico, foi o primeiro a descair-se, afirmando que neste momento é impossível especular os limites da crise.
  O fórum iniciou-se com a habitual receção no Hotel Belvedere, onde uma noite pode custar até 800 dólares. Tal ironia em tempos de crise levou Stephen Cole, enviado especial da
Al-Jazeera, a comentar, “ Se os seus clientes (dos participantes) pudessem os ver aqui, a sua frustração seria palpável e, suspeito, frequentemente violenta”.
  Os festejos duraram pouco. Logo de imediato iniciou-se a sinfonia de banqueiros a atribuir culpas a políticos, e vice-versa. “É um bom jogo para jogar quando tens uma pensão assegurada e o ultimo bónus pagou o empréstimo da casa”, comentava Cole no seu diário.
  Num período sedento de ideias concretas, de
Davos apenas saíram contradições. Se a maioria concordava com a necessidade de fazer avanças as negociações do tão conturbado Doha Round, na prática, e nas ameaças, as movimentações eram outras.  
 
Primeiro entraram em cena os ministros do comércio de 17 países e União Europeia reafirmando a necessidade de combater o protecionismo e avançar com os acordos de Doha.
Doris Leuthard, Ministra da Economia Suíça, disse, “O acordo de Doha será o maior pacote de estímulo económico de sempre”. A comissária da União Europeia para o comércio, Catherine Ashton, foi mais longe, dizendo, “Temos de comunicar melhor a mensagem aos povos do mundo que, de modo a sair desta crise, precisamos de manter os mercados abertos”. Estranho foi no mesmo dia a União Europeia anunciar um aumento de 85% das taxas de importações de ferramentas chinesas, que inevitavelmente, irá ser respondido com medidas idênticas em Pequim.
  Ciente de que a batalha protecionista já começará,
Kamaz Nath, Ministro do Comercio indiano, endureceu o discurso afirmando, “Se houver medidas protecionistas a Índia será obrigada a adotar as mesmas medidas”. Pelo sim pelo não a Índia deu o primeiro passo e acabou de aumentar as tarifas do aço para proteger os produtores locais.
  O líder chinês,
Wen Jiabao, foi mais otimista, dizendo que apesar das dificuldades acredita ser possível concretizar a meta de 8% de crescimento ainda este ano. No entanto, advertiu que o planeta tem de se preparar para um período de turbulência social.
Vladimir Putin, para além de prometer novos pipelines para resolver a crise do gás, revelou que na sua opinião, a União Soviética tombara por bombear de capital a empresas falidas, avisando que o mundo arriscava-se a cometer o mesmo erro. Pelos vistos a Rússia não é exceção, já que Putin e
Mevedev já colocaram um fundo de 50 biliões de dólares disponível a empresas russas em perigo de bancarrota.
  No meio de tanta contradição apareceu Bill Clinton, recebido em êxtase, como se de uma estrela de rock se tratasse, dizendo, “Existe muito medo lá fora. Por isso não penso que esta seja a melhor altura para assinar acordos de comércio”, descartando uma resolução dos acordos de Doha este ano. Acrescentou no entanto, “Mas
eu acredito que gente inteligente de todo o mundo verá que esta não é necessariamente altura para começar novas lutas”.
  Politicamente o fórum também ofereceu bons momentos, com o conflito israelo-árabe a manipular a agenda.
  Logo na assembleia inaugural, Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, pediu que disponibiliza-se um fundo de 613 milhões de dólares para reconstruir Gaza. Depois Benjamim Netanyahu afirmou que o grande desafio era travar um Irão nuclear, que ao contrário da crise, era bem mais difícil de combater.
  Mas o clímax foi mesmo no quarto dia do encontro, quando
Recep Tayyip Erdogan, Primeiro-ministro turco, levantou-se a meio de um debate com Shimom Perez, por não lhe ter sido dada oportunidade de responder.
  Na gaveta ficou a tentativa da ONU de promover o novo tratado ambiental; qualquer avanço nos acordos de Doha posterior à cimeira do
G20 em Londres já dia 2 de Abril; e os 60 detidos nos protestos anti-FEM em Genebra.
  Como Stephen Cole disse, “o melhor que se tirou destes dias em
Davos foram mesmo as condições ideias para a prática de ski”.

Fórum social mundial
 Pela primeira vez em Belém do Pará, o calor da amazónia recebeu os mais de 135 mil inscritos, vindos de 142 países.
  A crise mundial obviamente que dominou a agenda. Cândido
Grzybowsky, da ONG brasileira IBASE, afirmou que esta era uma oportunidade para democratizar os estados, as economias e a cena internacional, sentimento que ecoou repetidamente ao longo dos 6 dias.
  De salientar foi a presença dos chefes de estado do Brasil, Venezuela, Bolívia, Paraguai e Equador, que ofereceram ao fórum nova importância.          Igualmente relevante foi a mudança de atitude da plataforma social que pela primeira vez decidiu uma ação conjunta, desenvolvendo um plano coletivo de mobilizações internacionais.
  Emir
Sader, intelectual brasileiro, disse, “ Ao longo dos anos, o movimento foi obrigado a responder a realidades que vão além das propostas iniciais”.
  Tal argumento não pareceu ser suficiente para calar as críticas internas, em particular de ativistas ocidentais, que se mostraram descontentes com o que interpretam como um entrave à ação autónoma dos participantes do fórum. Pior ainda, quando estes argumentam que o fórum arrisca-se a ser manipulado politicamente por lideres como Hugo
Chavez e Lula da Silva.
  De concreto, para além de protestos a favor da nacionalização de bancos, democratização
dos média e educação, e a favor da autonomia dos povos indígenas, que marcaram presença em massa, pouco mais esta plataforma tem capacidade para fazer. Ou será que não?
  O Brasil e a argentina comprometeram-se a representar a vontade do fórum em desmantelar ou reformar o FMI, Banco Mundial e OMC. Foi também lançada uma nova moeda, a
Amazónida, que já está em circulação em pequenas comunidades rurais e que só no recinto do fórum circulou o equivalente a cerca de 13 mil dólares, lançando assim as bases para a criação de uma economia paralela.