Tesouros Dezembro/09

THE BEST OF GILL SCOTT HERON

   Quando a Disco dava os primeiros passos o poeta Gill Scott Heron ecoava o desalento da outra América com o seu íntimo Spoken Soul, que fizeram dele uma lenda da música e literatura moderna.
   Frequentemente apelidado de Avó do Hip Hop, alcunha que rejeita categoricamente, Heron é hoje uma voz esquecida, apagada pela controvérsia acumulada durante os anos em que teve a coragem de apontar o dedo ao presidente que ele chamava de Ronald Rea-Gun e a quem acusava de ter transformado a América num filme de serie B.
   Praticamente desconhecido na Europa aqui fica uma verdadeira relíquia do tempo em que se cantavam ideias em vez de conceitos.
  
Este "Best of Gill Scott Heron" inclui o surpreendente “This revolution will not be televised”, o esperançoso “Johannesburg”,o intimista “Ain´t no such thing as such a superman” e claro, o mítico “B Movie”.  

CAPTURING THE FRIENDMANS" de Andrew Jarecki 

    Esta desconfortável viagem clandestina pelos meandros de uma das mais disfuncionais famílias americanas é, sem margem para dúvidas, um dos mais impressionantes exemplos do poder do documentário.
   O retrato de uma família progressivamente destruída por um escândalo de Pedofilia e a tentativa desesperada de um filho  a tentar provar a inocência do pai e irmão é verdadeiramente perturbador.
   Com o raro potencial de deixar uma audiência inteira a questionar-se sobre a veracidade dos acontecimentos, "Capturing the Friedmans" é um daqueles filmes obrigatórios que ninguém se devia privar de desfrutar.   

 

 

“A IDADE DA RAZÃO” De Jean Paul Sarte

   Obviamente que Sartre não precisa de apresentações, é por si só uma ideia.
   Da multitude da sua obra destacam-se volumes intermináveis, esboços e conceitos, mas frequentemente ignora-se aquela trilogia que possivelmente expressa a veia literário do pai do existencialismo melhor que nenhuma outra obra.
   A "Idade da Razão" é a primeira parte da chamada "Trilogia do Caminho da Verdade".
   Numa Paris boémia dos anos 30, Mathieu, professor de Filosofia, encontra-se numa fase estranha da sua vida. As condições da vida e do mundo que o rodeia conjugam-se para o atormentar e distribuir armadilhas no difícil caminho da liberdade.
    Deambulando por temas como o aborto, a luta política e a noite decadente "A idade da Razão" é uma tentativa de ilustrar a mais complexa e difícil de digerir teoria de Sartre, a de que para se ser verdadeiramente livre apenas se tem que ser absolutamente nada.



Tesouros/Julho

  Morangos e chocolate” (CUB/1993)  De Tomás Gutierres e Juan Carlos Tabío 

  David, um jovem estudante militante do partido comunista conhece Diego, artista homossexual censurado pelo governo cubano, numa geladaria no centro de Havana.
   Diego apaixona-se e atrai a atenção de David prometendo que lhe emprestava a sua colecção de livros de autores franceses.     A início as diferenças políticas parecem ser impenetráveis e o contacto com a comunidade gay cubana assusta David ao ponto de este iniciar uma relação de forma a espiar as movimentações de Diego, para mais tarde o denunciar às autoridades.     Incapaz de seduzir David fisicamente, o artista cativa a mente de David com a lógica da razão, obrigando o jovem estudante a reavaliar o impacto do preconceito e homofobia do regime cubano.     Ainda hoje extremamente controverso em cuba, este foi primeiro filme a criticar abertamente o regime de Fidel Castro. Foi igualmente o primeiro filme cubano a vencer o Óscar para melhor filme estrangeiro.      Uma relíquia de difícil acesso mas indispensável a todos os amantes da sétima arte.

 

 

"Medo e delírio no trilho da campanha `72" (EUA/1973)  
 
De Hunter S. Thompson    

 
Em ano de eleições consecutivas é mais que pertinente revisitar a obra do norte-americano Hunter S. Thompson, o pai do jornalismo Gonzo, um género de jornalismo que não diferencia os factos da ficção e onde o jornalista não só é espectador mas também interveniente. 
 
Menos conhecido que o precedente “Medo e Delírio em Las Vegas”, “Medo e delírio no trilho da campanha ´72” é uma colecção de artigos escritos por Thompson durante a campanha das presidenciais de 1972, onde Richard Nixon foi o claro vencedor.   
 
No livro, Thompson, que se notabilizou como jornalista desportivo e cultural para a revista Rolling Stone, descreve-se como um “viciado em drogas e politica” e que viver em Washington é como “viver num acampamento militar, numa condição de medo constante”.
 
Mais relevante ainda, o autor expõe a estranha ligação entre o jornalismo e a política, descrevendo-a como “uma relação incestuosa”.    Tão delirante como sóbrio, “Medo e delírio no trilho da campanha ´72” é talvez amais completa, e igualmente complexa, viagem pelo estranho circo eleitoral norte-americano, onde Thompson, embora alcoolizado e drogado, é o mais lúcido de todos os intervenientes.  
 
Desde que Hunter S. Thompson faleceu em 2005, o mundo da política nunca mais voltou a ser o mesmo.

 

PJ Harvey – Live at Stockholm Water Festival  (1998)    

  Gravado ao vivo durante a tournée do álbum “Is this Desire” pela rádio sueca P3 Live, esta edição limitada é possivelmente uma das mais intima e verdadeira performance da artista inglesa, que ao longo dos últimos 15 anos se tornou na diva do underground alternativo.    
  O álbum destaca-se por ser dos poucos registos da transição de PJ Harvey antes de atingir êxito comercial com o seu quinto álbum “Stories from the city, Stories from the Sea”.  
   O CD inclui versões especiais do intimidante “Wind”  e do rancoroso “Snake”, tal como uma compilação dos melhores momentos dos seus primeiros 3 álbuns, “Dry”, “Rid of Me” e “To Bring you love”.