AFEGANISTÃO ANO ZERO
02/12/2009

 A vizinha-se um ano chave no Afeganistão. A rumar contra a maré, Obama parece estar destinado a um fracasso histórico.

   Oito anos depois da invasão do Afeganistão pelas tropas aliadas o conflito atinge um período crucial.
   Nos próximos dias será divulgada a estratégia final da aliança para contrariar o crescente domínio dos Talibãs no país, no entanto tratasse de um plano elaborado na maior das incertezas.
   Segundo um relatório publicado no verão passado, o General Stanley McChrystal, líder do corpo de intervenção da Nato e da operação Enduring Freedom”, serão necessárias pelos menos mais 40.000 tropas para além dos mais de 55.000 militares da Nato já presentes no território.
   Para que tal seja possível dois históricos anúncios são esperados nas próximas horas.
   Primeiro, está praticamente garantido que o presidente norte-americano anuncie em West Point o envio de pelo menos 30.000 tropas adicionais, o que significará um aumento de cerca de 50% da presença norte-americana no médio oriente. A novidade fará eco na opinião pública, que progressivamente se tem vindo a mostrar hostil a escalada da participação americana, que contabiliza já 844 baixas entre as suas tropas.
   De Gordon Brown, Primeiro-ministro britânico, espera-se também a oficialização do envio de mais 500 militares que se agruparão aos 9.000 já presentes. Será também fonte de grande controvérsia já que a oposição à presença britânica se espalha a praticamente todos os quadrantes políticos. O pessimismo é de tal forma palpável que diferentes elementos das forças Armadas Britânicas vieram apelar a uma mudança de discurso na imprensa inglesa, afirmando que a moral das tropas atravessa um momento de grande debilidade.
    “Ouvimos dizer que esta luta não vale a pena. Será que isto quer dizer que todos os nossos sacrifícios, mortos e feridos foram em vão?”, questionou o General Graeme Lamb, líder das SAS.

    A frágil posição interna de Brown e a pouco clara posição de David Cameron, conservador e grande favorito para a sucessão de Brown, deixam a operação da Nato numa posição delicada.
    Incapaz de assumir a postura adoptada por Tony Blair, Gordon Brown não se cansa de realçar que a movimentação de novas tropas será só possível em 3 condições: A disponibilização de recrutas locais (que até ao fim de 2010 controlarão 5 das províncias correntemente sob controlo britânico); Garantias de que será possível equipar adequadamente as novas tropas; e que todo o plano passe por uma maior intervenção dos restantes membros da Aliança Atlântica.
    Para calar alguns críticos, Brown foi ainda mais longe ao anunciar uma Cimeira internacional, a 28 de Janeiro do próximo ano em Londres, onde o presidente afegão, Hamid Karzai, deverá se comprometer a combater a corrupção interna e o Paquistão será forçado a redobrar esforços na luta contra os Talibãs.

    Estas promessas e condições poderão  ser insuficientes já que o ambiente dentro da aliança é tudo menos saudável.

    Primeiro a relação entre as tropas Francesas e Italianas (quarta e sexta maior presença respectivamente) atravessam um período de grande tensão depois de Mohammed Ishmayel, líder Talibãs, ter denunciado que elementos dos serviços secretos italianos, a troco de uns quantos milhões de dólares, assinaram um acordo de não agressão. O incidente resultou na morte de 10 franceses em menos de um mês depois das tropas Gaulesas ocuparem as posições italianas que se julgavam seguras. Embora o governo de Berlusconi o tenha negado Sarkozy não teve mãos a medir anunciando de imediato que nem mais um militar francês seria enviado para a região.
   Em seguida Stephen Harper, Primeiro-ministro Canadiano, anunciou uma retirada total até 2011, cedendo a pressões internas depois de já contabilizarem 132 baixas nas suas tropas.
   Na Holanda a situação não é menos complicada. Originalmente a sua presença estava programada terminar em 2008, mas a falta de tropas substitutas obrigou a alargar a presença até 2010. Em Outubro passado as dúvidas desfizeram-se quando o parlamento holandês votou contra a continuação das suas tropas em território afegão.
   Por fim a presença alemã vive também dias de grande incerteza, com a publicação de fotos de soldados alemães pousando ao lado de vitimas civis e o mais recente escândalo que levou à demissão de Franz Josef Jung, ex Ministro da Defesa, e o General Wolfgang Schneiderham, líder do exercito, dois eventos que estão a mobilizar a opinião publica contra a participação de tropas alemãs.

   Com tantos factores a jogarem contra, Obama encontra-se numa posição infeliz, arriscando-se a ficar isolado no momento em que mais precisa dos seus aliados


Expansão de Colonatos Ilegais Continua

30/06/09

 
Numa altura em que o processo de paz no médio oriente parecia ganhar novo fôlego Israel anunciou que uma das maiores fontes de discórdia está longe de ser resolvida.   

   O governo israelita, liderado pelo novo presidente Benjamim Netanyahu, anunciou ontem que acabara de aprovar a construção de 50 novos colonatos na Cisjordânia.  A Peace Now, organização-não-governamental israelita, afirma que o plano é bastante mais extensivo e que envolve a construção, a longo prazo, de mais de 1400 colonatos.
   A notícia saiu numa altura delicada, apenas horas antes do Ministro da Defesa, Ehud Barak, aterrar em Washington para aliviar alguma tensão entre Israel e a administração de Obama, que recentemente exigiu um cessar imediato da construção de colonatos. A posição do Presidente norte-americano é claramente apoiada pelo quarteto das Nações Unidas para a paz no Médio Oriente (que inclui também a Rússia, União Europeia e a ONU), tal como a Alemanha e França. 
   Na semana passada Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU, disse, “Apelamos às autoridades israelitas que parem o desenvolvimento dos colonatos, incluindo o crescimento natural, e que abram os pontos de travessia. Esse seria o princípio que permitiria a implantação das nossas propostas”. 
   A decisão é um caso de vida ou morte para Netanyahu, cuja coligação no governo inclui partidos de extrema-direita que em diversas ocasiões apoiaram os colonatos. Se Netanyahu não o fizer poderá por em causa a manutenção do seu frágil governo.  
  Para o presidente, a medida não se trata de construir novos colonatos, mas sim o desenvolvimento dos já existentes, processo apelidado de “Crescimentos Natural”. 
   Um porta-voz da Administração Civil israelita, disse em comunicado, “Os terrenos em questão incluem a região costeira do Mar Morto, que secou ao longo dos tempos”.   
  Segundo a publicação palestiniana Al-Quds, a área a ser ocupada ronda os 139 kms quadrados e inclui os terrenos fronteiriços com o gigantesco e controverso colonato de Maale Adumim.  
  As reacções por parte da Autoridade Palestiniana não se fizeram demorar. “Não vamos aceitar a continuidade dos colonatos”, disse Mohamoud Abbas, Presidente palestiniano.  
   Hatem Abdel-Qader, Ministro que lidera o departamento de Assuntos de Jerusalém, afirmou, “Este será o maior pedaço de terra confiscado desde 1967. Obviamente que temos de recorrer nos tribunais para impedi-lo”.  Segundo o porta-voz da Administração Civil israelita, têm agora 45 dias para apresentar queixa em tribunal.  
   A questão dos colonatos judeus é talvez das mais delicadas em todo o conflito. A falta de terra fértil e acesso a recursos básicos, como água potável, forçou a uma batalha feroz por propriedade. Cerca de meio milhão de judeus vivem lado a lado com enormes povoações palestinianas, que vêm as suas movimentações severamente limitadas pelo exército israelita, de forma a proteger os colonos. Igualmente preocupante é o facto dos colonatos consumirem grande parte dos recursos disponíveis, enquanto que nas cidades palestinianas energia e água potável são uma raridade.  
   Embora o tribunal de Haia tenha declarado os colonatos ilegais, e em 2004 Ariel Sharon tenha demolido todos os colonatos em Gaza, na Cisjordânia as povoações ilegais continuam a crescer. 
   No início do mês o caso dos colonatos causou um debate acesso, quando um tribunal israelita declarou o colonato de Migron ilegal, por ter sido construído em terreno privado palestiniano, obrigando o governo israelita a realojar mais de 200 pessoas. Na altura a alternativa anunciada foi envia-los para o colonato de Adam, a norte de Jerusalém, o que gerou severas críticas por parte dos envolvidos no processo. 
   Michael Sfard, advogado do proprietário palestiniano, disse, “A forma como o governo lida com os colonatos é absurda. Recompensam criminosos com casas novas”. Yariv Oppenheimer, membro da Peace Now, foi mais longe, dizendo, “Quem mais beneficiou com este processo foram os colonos que criaram povoações ilegais e ameaçaram com violência em caso de despejo. Agora vão ser realojados numa área 30 vezes maior”.      A falta de vontade de Netanyahu em disputar as exigências da sua coligação compromete seriamente as negociações de paz, que pelo menos em parte, estão dependentes de uma reavaliação da situação dos colonatos.  
   No início do mês, Netanyahu prometeu reiniciar as negociações desde que, entre outras condições, os palestinianos reconhecessem oficialmente o estado de Israel e cedessem o seu direito de ter uma instituição militar. 
    Em entrevista para o New York Times, Álvaro de Soto, analista do Centro de Politicas de Segurança em Genebra, disse, “É impossível reconhecer a existência de um estado quando este invade ilegalmente a tua nação. O pedido dos israelitas é inaceitável”.  
   Toda a controvérsia coincide com a publicação de dois relatórios polémicos que deixam o governo israelita numa situação difícil.  
   Primeiro, um recente relatório da Cruz Vermelha demonstrou o estado de “desespero contínuo” que se vive em Gaza desde a invasão das tropas judaicas. Segundo o mesmo relatório, o bloqueio à região forçou o colapso da economia local, aumentando drasticamente os níveis de pobreza. A Cruz Vermelha alertou também para a necessidade de distribuir material hospitalar e de construção para resolver os graves problemas de infra-estruturas em Gaza.  
    Ao mesmo tempo, o Concelho de Direitos Humanos da ONU iniciou a investigação de crimes de guerra durante a última invasão de Gaza, provocando grande controvérsia em Israel, que rejeitou a entrada dos investigadores no território palestiniano por considerar o processo demasiado “preconceituoso em relação aos interesses israelitas”.  
    Netanyahu está entre a espada e a parede. De um lado é pressionado pelo seu próprio concelho de estado, pelo outro é pressionado pela comunidade internacional.   
   Há pouco mais de 3 meses no poder enfrenta a sua primeira grande crise.   
   Se Obama se mantêm fiel às suas recentes declarações e Netanyahu não ceder, Israel fica totalmente isolado. Se Netanyahu enfrentar os elementos mais radicais do seu governo arrisca-se a desmoroná-lo.

Um voto com consequências
30/05/2009

  Não são só os europeus que vão a votos dia 7 de Junho. Exactamente no mesmo dia abrem as urnas no Líbano para as que, provavelmente, serão as mais importantes eleições da história moderna do país. Independentemente do resultado, qual será o efeito na região?

Se em Bruxelas a única vitória previsível será a da abstenção, em Beirute o caso não podia ser mais diferente.
Seja qual for o resultado, estará em jogo o futuro de uma região inteira e os libaneses, conscientes da sua eterna condição de palco de guerras e intrigas internacionais, sabem que esta é uma oportunidade única para iniciar um novo ciclo.
Ao longo dos tempos os libaneses mostraram-se indiferentes às constantes mudanças de poder. Guerra a apôs guerra, reconstroem as suas cidades com uma notável rapidez seguido de tempos de enorme prosperidade. Prova disso é o facto de em 2008 o Líbano ter tido o melhor ano financeiro da sua história, com os bancos a registarem lucros recorde e uma indústria imobiliária cada vez mais próspera.
2009 caminha no mesmo sentido, enquanto o resto do mundo faz contas à vida.
Para isso muito ajudaram os 2 biliões de dólares que os sauditas injectaram no banco central libanês desde a invasão israelita em 2006. Mas o segredo está também nas políticas conservadoras do mesmo banco central.
“O sistema que criamos foi testado com guerras, instabilidade e assassinatos políticos. O nosso sector seria mais desenvolvido se não houvesse tanta insegurança e instabilidade, mas a situação obrigou-nos a reflectir e a estar sempre preparados para o pior cenário possível”, disse o director do Banco Central, Riad Salameh, numa recente entrevista ao New york Times.
A nível politico a questão é substancialmente diferente e tem um cariz tanto internacional como nacional.
Desde Novembro de 2007, altura em que o presidente Emile Lahoud abandonou o cargo, o país vive num impasse.
A crise política pareceu ter sido resolvida em Maio do ano seguinte, com a nomeação do General Michel Suleiman, mas 6 meses sem líder abriram espaço para que emergissem questões fundamentais sobre a natureza do governo libanês.
Num país de maioria xiita nunca fez muito sentido haver um presidente cristão e um primeiro-ministro suni, no entanto tem sido essa a regra geral nos últimos anos. A situação criou serias divisões entre a população, que frequentemente acabam em conflito aberto, como aconteceu em Maio de 2008, resultando na morte de 65 pessoas.
Aos poucos e poucos vai-se criando um equilíbrio e no Líbano de hoje vigora um acordo de partilha de poder, onde o governo do cristão Fuad Siniora dispõe de 16 lugares no concelho de ministros e a coligação na oposição, onde o Hezbolah se integra, dispõe de 11.
A recente visita a Beirute de Joe Biden, vice – presidente norte-americano, ficou marcada por uma nova postura por parte dos Estados Unidos. Para além de se encontrar com os sectores que o ocidente tradicionalmente apoia, também integrou na sua agenda elementos da oposição, incluindo alguns ligados ao Hezbolah, o maior partido Xiita.
Mas à medida que os analistas especulam uma vitória significativa para o Hezbolah o discurso inevitavelmente azedou.
“Vamos avaliar o nosso programa de assistência dependendo da composição do novo governo e das políticas que representar”, disse Biden, indicando que em caso de vitória do Hezbolah as relações diplomáticas podiam complicar-se.
O comentário de Biden pode ter sido algo precipitado.
Mesmo em caso de vitória do Hezbolah será sempre um resultado meramente simbólico. O partido apenas nomeou 11 candidatos para os 128 assentos em jogo e realisticamente as hipóteses de eleger todos os 11 são poucas.
Certo é que independentemente do resultado, a influência política do Hezbolah tem progressivamente expandido. É uma realidade incontornável e reforçada pelos recentes esforços diplomáticos por parte dos britânicos, que iniciaram negociações com o grupo, tal como o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia, que juntos disponibilizam anualmente cerca de 198 milhões de dólares ao estado libanês.
Paralelos entre estas eleições e as de 2006 na Palestina, que elegeram o Hamas para o governo, são inevitáveis mas perigosas.
O Hezbolah concorre a estas eleições apenas como parte de uma coligação liderada pelo Movimento Xiita Amal, de Nabih Berri, e pelo Movimento de Patriotas Livres, encabeçado pelo cristão Michel Aoun, cujas correntes ideológicas são bastante diferenciadas da do Hezbolah.

Estranho nestas eleições é o silêncio do governo israelita. Poucos têm sido os comentários, nem depois das recentes movimentações que resultaram na detenção de 30 indivíduos acusados de espiarem para Israel.
Em caso de vitória do Hezbolah, mesmo que simbólica, obviamente que o mundo, incluindo Israel, será obrigado a repensar a abordagem ao Hamas. Seria a segunda vez que na região se elegia, com poder significativo, grupos islâmicos com fortes capacidades militares.

A influência política do Hezbolah e Hamas poderia, a partir desse momento, alastrar-se ao resto da região e polarizar as opiniões públicas ainda mais.
Ao mesmo tempo, se o Hezbolah não obter uma vitória significativa não irá deixar de exercer grande influência.
Seja qual for o resultado, no Líbano parece haver interesse, de vários quadrantes políticos e populares, em verdadeiramente integrar o Hezbolah no sistema politico, e automática e progressivamente torna-lo numa instituição democrática.
Tal fenómeno só será possível com um apoio considerável e tolerante da comunidade internacional.
Se o fizerem poderá ser uma rampa de lançamento para finalmente atingir a tão necessária estabilidade na região.


Um governo com várias faces
03/04/09

  9 meses depois de Olmert anunciar a sua retirada de cena Israel tem um novo governo. O maior e mais complexo da sua curta historia. O mundo questiona-se “Quanto tempo durará e o que pode ele conquistar?”

  30 Ministros e 8 secretários de estado é a resposta de Benjamim Netanyahu, depois de intensas negociações com o objetivo de agradar todos na complexa coligação que vai do centro esquerda até à extrema-direita.
  Embora tenham sido criadas pastas para ministérios como o da Informação e Diáspora, Assuntos Religiosos e Assuntos Estratégicos, ninguém, nem os 5 nomeados que ainda não têm pastas, quiseram ficar com a “batata quente” da Saúde.
  “Apenas prova a falta de importância que todos os políticos e obcecados pelo poder atribuem ao ministério”, disse
Yaakov Ben-Yizri, o ministro que agora abandona o ministério, do já defunto Partido dos Pensionistas.
  Para já a pasta deve ficar por conta do secretário de estado
Yaakov Litzman , do partido União do Judaísmo Torah, que com poderes limitados, pouco poderá fazer para resolver a grave crise que atravessa o terceiro maior ministério do governo.
  Ben
Yizri acrescentou, “Precisamos de mais 3.000 camas, 4.000 médicos e 5.000 enfermeiras. Já existem planos prontos a avançar desde que alguém assuma a responsabilidade, mas com todo o respeito, isso não vai acontecer com um secretário de estado à frente do ministério.”
  O inconclusivo resultado das eleições de 10 de Fevereiro criou um vácuo de poder em Israel, obrigando Netanyahu a procurar aliados em todo o espetro politico. Não é raro que tal aconteça em Israel, onde o sistema eleitoral atribui grande poder aos pequenos partidos, resultando sempre em coligações disfuncionais e de curta duração.
  Mas este governo é particularmente problemático.
  Tipzi Livni, do Kadima, embora tenha ganho as eleições por um lugar no knesset, preferiu ficar na oposição, oferecendo a oportunidade a Netanyahu de regressar ao poder depois de lá ter estado em 1996, naquele que foi um dos mais conservadores governos da história Israelita.
  O novo primeiro-ministro tem agora de encontrar malabarismos para estabilizar uma coligação solta que inclui os controversos deputados
Avigdor Lieberman, dos ultranacionalistas do Yisrael Beiteinu, e o ortodoxo Eli yishai do partido Shas.
  A transferência de poder teve lugar na terça-feira passada e
Lieberman entrou de imediato ao ataque.
 “A conferência de
Annapolis não têm qualquer validade. O governo israelita nunca retificou Annapolis, nem o parlamento”, disse Lieberman na cerimónia de tomada de posse como ministro dos Negócios Estrangeiros, referindo-se aos acordos assinados no Maryland em 2007, onde Israel e a Autoridade Palestiniana se comprometeram a redobrar esforços para alcançar um acordo de Paz. Fonte próximas do primeiro-ministro afirmam que as declarações refletem a sua posição.
  No entanto,
Lieberman disse que o mapa de negociações traçado em 2003 era para cumprir.
  Apesar de toda a retórica nacionalista,
Lieberman não se opõem à solução dos dois estados, ao contrário da direita conservadora. Na campanha eleitoral propôs mesmo a solução desde que se possam anexar e expandir os colonatos judeus na Cisjordânia e que os árabes israelitas façam novo teste de lealdade.
  Mais difícil será incluir
Eli Yishai, opositor à solução, nas negociações. Yishai é talvez o mais controverso de todos os elementos do novo conselho.     Ganhou notoriedade em Israel ao proferir comentários homofóbicos quando era ministro da Saúde. “Homossexualidade é uma grave doença. Eu vejo o problema como um caso clínico”, disse em 2008 numa entrevista à revista Times.
  Benjamim Netanyahu em diversas ocasiões mostrou não acreditar na solução dos dois estados, no entanto, no passado surpreendeu o mundo ao ceder a pressões dos Estados Unidos, quando em 1997 cedeu 80% de
Hebron e a 23 de Setembro de 1998 assinou o memorando do Rio Wye, definindo mais retiradas da Cisjordânia.
  A inclusão de
Ehud Barak, trabalhista que agora toma posse da pasta da Defesa, para além de fundamental para a coligação, pode ser vista como uma demonstração da vontade de Netanyahu em continuar com negociações.
  A presença de
Barak no governo gerou uma míni revolta no partido trabalhista. Muitos deputados preferiam ficar na oposição, mas para Barak, já com 67 anos, esta seria a ultima oportunidade para fazer parte de um governo.
  “Os trabalhistas estão se destruir a si próprios. Eu vi as transmissões das negociações internas e eles estavam a proferir comentários duríssimos uns aos outros. Isto é normal no partido, mas ontem à noite foi particularmente penoso. Seja como for,
Barak conseguiu exatamente o que queria”, disse James Marlow, analista independente em Jerusalém, à Aljazeera.
  Para os israelitas a situação não é nada de novo.
  Mas mesmo assim choveram críticas. “Netanyahu e
Barak quebraram as suas promessas eleitorais”, lia-se no jornal Yediot Ahronot.
  Para os palestinianos a inclusão de
Barak pouco acrescenta à atmosfera de desalento provocada pela vitória da direita nas eleições.
  Ghassan El-Khatib, analista palestiniano em Ramallah, disse, “A inclusão dos trabalhistas neste governo de direita não vai fazer qualquer diferença.  Primeiro, porque são uma minoria. Segundo, porque Barak é um político com provadas tendências de direita, particularmente no que toca ao processo de paz. Primeiro tomou papel central na expansão de colonatos ilegais em território palestiniano. Segundo, porque foi instrumental na última e desnecessária invasão de Gaza.”
 O presidente palestiniano,
Mohamoud Abbas, já se mostrou disponível para negociar com qualquer governo desde que a solução dos dois estados e o cumprimento dos acordos conquistados não sejam postos em causa.
 A nova condição em nada ajuda
Ahmed Qurei, representante da Fatah, nas negociações com Musa Abu-Marzuq, líder do Hamas em Damasco, que reiniciaram quarta-feira no Egito Tudo indica que o Hamas será excluído de qualquer negociação com Israel e como tal, dificilmente se resolverá o conflito em Gaza, onde para já ainda não existe cessar-fogo.
  Netanyahu tem outras difíceis tarefas. Israel não é exceção à crise. A moeda tem vindo a perder valor vertiginosamente. Depois ainda há o Irão.
  “Não queremos que um culto messiânico apocalíptico a controlar bombas atómicas”, disse o primeiro-ministro em entrevista para uma revista americana, referindo-se a
Ahmadinejad, que acredita na iminente chegada de Mehdi, figura messiânica do Islão.
  Mais preocupante ainda é o facto de Netanyahu em diversas ocasiões ter mostrado vontade de bombardear Teerão. Alguns analistas acreditam que possa vir a acontecer em breve.
  A postura conservadora e dura do novo líder, o primeiro a nascer já depois da formação do estado de Israel, e a inclusão da estrema direita no governo não alimentam grandes perspetivas para uma resolução do conflito no médio oriente. Mas a influência de Obama, e as cedências do passado poderão ser indicadores positivos.
  Seja como for, o mais difícil será criar consenso contínuo dentro de uma coligação tão variada e oposta.


 Obama das Arábias
02/03/09

  Com eleições à porta em Israel, Iraque, Irão e Afeganistão, será este o melhor momento para a administração de Obama marcar um ponto de viragem na política externa? Ou será que não?

 Chegou ao fim o período da Lua de Mel. Desde que assumiu a presidência Barak Obama tem se desdobrado em reuniões e declarações para contra atacar a recessão que arrasou a economia americana. Grande parte da solução do problema reside na estabilização do médio oriente e na consequente normalização do preço do petróleo.
Se as eleições americanas assinalaram uma mudança radical as eleições que se seguem no médio oriente apresentam uma oportunidade para provocar a tão prometida mudança.
 
 Afeganistão
 Um dos cavalos de corrida da campanha que levou Obama à presidência foi a sua posição no conflito que opõem as tropas da NATO e os Talibãs.
Logo no primeiro dia como presidente reuniu-se com o chefe das forças armadas, o General David
Petraeus, para elaborar um plano para o envio de tropas suplementares. Michael Mullen, oficial da operação no Afeganistão, afirmou que até ao verão poderão mesmo chegar mais 30.000 tropas.
No entanto, este reforçar da presença militar assume velhos contornos com a hesitação do resto da força internacional presente no território.
Esta semana o primeiro-ministro holandês, Jan Peter
Balkenende, declarou que até ao final de 2009 ia reduzir a presença holandesa significativamente, tal como o Canadá e a Alemanha. Hervé Morin, ministro da defesa francês, afirmou também que neste estar fora de questão o envio de mais tropas francesas. Outro importante aliado, o Paquistão, não apreciou as ameaças feitas por Obama na campanha eleitoral, onde frequentemente colocou a hipótese de uma intervenção militar no país.
 Christopher
Langton, diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, disse, “Existe o medo de que isto se possa tornar numa guerra americana em vez de uma guerra da Nato. Com os outros membros da Nato a planear uma retirada os Estados Unidos poderão ver-se isolados”.
Petraeus disse recentemente, “Precisamos de novas ideias sobre contra-insurgência”.
Também na elaboração de uma nova estratégia surgem diversos problemas. Uma das primeiras novas táticas apresentadas pelo pentágono não tem nada de nova. Resume-se a adaptar a estratégia de criar milícias locais, tal como no Iraque, onde
Petraeus armou grupos Sunnis para combater insurgentes. Num Afeganistão já largamente controlado por grupos guerrilheiros outro exercito “privado” poderá vir a piorar o clima de caos. O projeto piloto na província de Wardak falhou quando os novos recrutas, acabados de receber armas e uniformes, começaram a aterrorizar as populações locais. Surgiram também problemas técnicos sem que fosse possível chegar a um acordo sobre quem ia controlar e financiar a milícia.
Consenso parece haver num ponto, o maior problema na região é um problema de liderança. O secretário-geral da Nato,
Jaap de Hoop Scheffer, escreveu recentemente no Washington Post, “Basicamente o problema no Afeganistão não é Talibãs a mais; é bom governo a menos”.
  O presidente afegão,
Hamid Karzai, que até à pouco tempo o menino bonito do ocidente, encontra-se agora isolado. Não pode contar sequer com o apoio outrora prometido pela nova secretária de Estados americana, Hilary Clinton, que no discurso de tomada de posse declarou o Afeganistão um “Narco Estado”.
  Assim que Obama assumiu a presidência os seus conselheiros receberam a visita de 4 figuras da oposição a
Karzai, mostrando algum interesse americano na mudança de liderança.
  Abdullah Abdullah, Ashraf Ghani, Ali Ahmad Jalali e Gul Agha Sherzai sozinhos dificilmente serão capazes de derrotar Karzai nas presidenciais este verão, mas uma candidatura conjunta é vista com bons olhos em Washington, pois representa uma oportunidade de unir as diferentes etnias Afegãs. Por outro lado, a mesma candidatura arrisca um desmoronamento das bases de cada candidato.

Candidatos
 Abdullah Abdullah – Considerado líder da população Tajik. Serviu como ministro dos negócios estrangeiros de 2001 a 2006
 Ashraf Ghani Etnia Pashtun. Esteve 24 anos nos Estados Unidos, onde trabalhou no banco mundial de 1991 até 2001. Entre 2002 e 2004 assumiu a pasta do ministério das finanças e comandou a transferência da moeda.
  Ali
Ahmad JalaliPashtun, notabilizou-se como coronel da resistência durante a invasão soviética. Tem cidadania americana. Quando regressou foi nomeado Ministro do Interior.
  Gul Agha Sherzai – Como governador de Kandahar foi frequentemente acusado de cometer abusos de direitos humanos. Actualmente é governador da província de Nangahar, no Leste do país.

 Irão
 Na primeira entrevista depois da toma de posse, Obama disse estar preparado a “estender a mão ao Irão” se
Mohmoud Ahmadinejad “abrir os punhos”. O presidente Iraniano foi pragmático na resposta. Num comício no sul do país disse num tom irónico, “Mudança pode ter lugar de duas formas. Primeiro uma mudança fundamental e efetiva Segundo uma mudança de tática Está claro que se o significado de mudança é o segundo, isso será brevemente revelado”.
  Embora as relações diplomáticas entre os dois países estejam bloqueadas desde a revolução de 1979,
Susan Rice, nova embaixadora americana na ONU, revelou estar ansiosa por envergar por um caminho diplomático direto com o Irão.
  A liderança de
Ahmadinejad será posta à prova nas eleições de Junho, mas Obama bem pode contar com a habitual retórica antiamericana que tantos votos renderam no passado. Importante é Obama compreender o bluff de Ahmadinejad e não deixar que isso danifique os esforços diplomáticos, pois quer se queira quer não, o Irão é a chave da estabilização de toda a região.
  Candidatos
   Mohmoud
Ahmadinejad – Conservador e antigo presidente da câmara de Teerão, venceu as ultimas eleições com mais de 60% dos votos. É o grande favorito.
  Mehdi Karroubi – Candidato dos reformistas. Figura controversa por acusar o filho de Ayatollah Khamenei de influenciar as tropas revolucionárias islâmicas a cativar votos para Ahmadinejad, nas últimas eleições. Foi candidato presidencial em 2005, ficando-se pela primeira volta.

  Israel
 Enquanto Obama era entrevistado pela
Al-Arabiya, George Mitchell, recentemente nomeado representante americano no médio oriente, aterrava no Cairo, para auxiliar Mubarak na mediação das negociações entre as autoridades Israelitas e Palestinianas. A nomeação do veterano, que jogou um papel fundamental nas negociações de paz na Irlanda do Norte, pode ser vista como uma demonstração de determinação, por parte de Obama, em ver uma conclusão para o mais velho e sério conflito na região.
  Gerry Adams, antigo líder do Sien Fein, escreveu recentemente no Guardian, que Mitchell mostrara características fundamentais. como paciência e tolerância, para mediar as negociações. Adams advertiu no entanto, “Num processo de paz, o objetivo tem de ser um acordo inclusivo, aceitável para ambas as partes, possível e sustentável. Isso significa que inimigos e adversários têm de criar espaço um para o outro...O governo israelita e os outros governos têm de falar com o Hamas”.
  Com eleições em Israel já no próximo dia 10 de Fevereiro e o esmagador apoio dos israelitas à recente intervenção em Gaza, espera-se um acentuar do discurso intimidatório, que em nada ajudará a inclusão dos lideres do Hamas nas negociações. Pior ainda quando o partido Likud, de Benjamin Netanyahu, lidera nas sondagens, e os partidos árabes,
Balad e Ta´Al estão impedidos de se candidatarem.

Candidatos
 Likud – Nas sondagens de 29 de Janeiro o partido de centro direito pode contar com uma vitória à tangente, mas significativa, pois aumentará a sua presença no
Knesset de uns meros 12 lugares para 28. O líder Netanyahu foi primeiro-ministro entre 1996 e 1999 e em 2005 demitiu-se do cargo de ministro das finanças em protesto contra o plano de desmantelamento dos colonatos judeus em Gaza
 Kadima – A incapacidade da líder Tzipi Livni de formar uma coligação com os socialistas, e o escândalo de corrupção de Olmert fizeram o partido perder terreno nas sondagens, que apontam uma perda de 4 lugares no parlamento. Livni, Ministra da dos Negócios Estrangeiros de Sharon, tem vindo a perder credibilidade política.
 Socialistas – Embora
Ehud Barak tenha aceitado formar coligação com Livni a desistência do partido Shas tornou-a impossível. Os socialistas podem contar com uma perda de pelo menos 5 lugares.

    
Iraque
 Se no Afeganistão se fala numa maior participação americana, no Irão um acentuar dos esforços diplomáticos e em Israel a introdução de sangue  fresco nas negociações, no Iraque a palavra de ordem é “retirada”.
  Acidentalmente esta semana até foi propícia para que tal plano seja posto em prática. As eleições locais do fim de semana passado decorreram num clima estranhamente calmo, oferecendo a oportunidade rara de se elegerem líderes locais capazes de organizar as bases necessárias para que nas eleições, que terão lugar no final do ano, se forme um governo sólido, retificando assim os erros cometidos nas eleições de 2005.
  Obama pode também agradecer as autoridades iraquianas por resolver outro dos grandes obstáculos que se entrepõem à retirada americana, ao não renovar o contrato com a companhia de segurança privada
Blackwater, cuja presença na região violava tanto leis internacionais como locais.
  Importante é que Obama não se deixe iludir, pois para que as eleições corressem de forma pacifica foi necessário um brutal esforço de segurança, com restrições de movimentações da população e recolher obrigatório noturno, e a retirada da
Blackwater nada mais é do que o primeiro passo, já que ainda restam 180.000 seguranças privados no país.
  Mesmo longe do ideal, a retirada total nunca se adivinhou tão possível.